Instituto Lula é acusado de receber milhões

Instituto Lula recebeu R$ 3 mi

Camargo Corrêa fez três doações à entidade, além de pagar R$ 1,5 milhão a empresa do ex-presidente

iG Minas Gerais | 10/06/2015 03:00:00


Ricardo Stuckert / Instituto Lul
Serviços. Segundo Instituto Lula, doações foram para manutenção e desenvolvimento de atividades

Brasília. A construtora Camargo Corrêa pagou R$ 3 milhões para o Instituto Lula e R$ 1,5 milhão para a LILS Palestras Eventos e Publicidade, empresa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2011 e 2013. É a primeira vez que os negócios do petista aparecem nas investigações da operação Lava Jato, que apura um esquema de cartel e corrupção na Petrobras com prejuízo de R$ 6 bilhões já reconhecidos pela estatal.

O registro sobre o elo da empreiteira – uma das líderes do cartel acusado de corrupção pela Lava Jato – com Lula consta do laudo 1047 de 2015, da Polícia Federal, anexado nesta terça aos autos da investigação. O laudo tem 66 páginas e é subscrito pelo perito criminal federal Ivan Roberto Ferreira Pinto.

A perícia foi realizada na contabilidade da Camargo Corrêa de 2008 a 2013, período em que a empreiteira recebeu R$ 2 bilhões da Petrobras. O documento mostra que a construtora repassou R$ 183 milhões em “doações de cunho político” – destinadas a candidaturas e partidos da situação e da oposição. O Instituto Lula, criado pelo ex-presidente após deixar o Planalto, em 2011, recebeu três pagamentos de R$ 1 milhão cada.

O que chamou a atenção dos investigadores foi o lançamento de 2 de julho de 2012, sob a rubrica “Bônus Eleitoral”. No caso dos pagamentos à LILS, cujo endereço declarado é a própria residência de Lula, em São Bernardo do Campo, a empreiteira registrou os depósitos em conta corrente de R$ 337,5 mil em 26 setembro de 2011, de R$ 815 mil em 17 de dezembro de 2012, e de R$ 375,4 mil em 26 de julho de 2013.

Os valores são tratados pela empreiteira como “serviços de consultoria”. Dois executivos da Camargo, Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Hermelino Leite, confessaram nos processos da Lava Jato, em acordo de delação premiada, que foram feitas doações eleitorais ao PT, após pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto – preso desde abril, em Curitiba. Eles não citaram Lula.

O Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria, que os valores foram doados legalmente, sem qualquer relação com a Petrobras ou eleições. “Os valores citados foram doados para o Instituto Lula para a manutenção e desenvolvimentos de atividades institucionais, conforme objeto social do seu estatuto”, diz a assessoria, acrescentando que “os três pagamentos para a LILS são referentes a quatro palestras feitas pelo ex-presidente, todas elas eventos públicos e com seus respectivos contratos”.

Doações

Siglas. Dentre os partidos políticos que receberam doações da Camargo Corrêa entre 2008 e 2013 estão legendas da base de governo e da oposição, como PT, PMDB, PP e PSDB.

Youssef diz que não participou de campanha por estar detido São Paulo. O doleiro Alberto Youssef foi ouvido nesta terça pela Justiça Eleitoral, dentro da ação aberta para investigar suposto abuso de poder econômico da presidente Dilma Rousseff (PT) na campanha de reeleição de 2014, a pedido do PSDB. O doleiro confirmou o que havia dito em seus depoimentos à operação Lava Jato e à CPI da Petrobras sobre o esquema de corrupção e desvios na estatal, iniciado em 2004 e que teria continuado até o ano passado. Youssef não apontou elementos específicos sobre a campanha de 2014 da candidata do PT, segundo a defesa da presidente. Ouvido pelo juiz Nicolau Lupianhes Neto, da Corregedoria do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele informou não ter participado ativamente de esquemas durante a disputa eleitoral do ano passado por estar detido. O depoimento faz parte da Ação de Investigação Judicial Eleitoral aberta a pedido do PSDB, no fim de 2014, pelo TSE. O partido pede a cassação do mandato da presidente por abuso de poder político e econômico. Entre outros fatos, o PSDB alega que a campanha de Dilma em 2010 foi financiada, em parte, por dinheiro oriundo da corrupção da Petrobras.

IG