Conformada, tropa de choque de Dilma no Senado articula contra-ataque para votação final

Nas sessões da Comissão Especial do Impeachment do Senado, eles protagonizaram algumas das discussões mais acaloradas. Eram, afinal, a minoria pró-governo: os cinco senadores responsáveis por defender uma presidente com níveis recordes de impopularidade.

Após a aprovação do relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável ao impeachment, a tropa de choque de Dilma Rousseff na Casa já assume a derrota na votação desta quarta-feira. Eles afirmam que o parecer deve ser aprovado no plenário, onde será necessária a maioria absoluta dos votos (metade dos presentes, no mínimo 41, mais um).

O jogo, dizem, pode virar na votação derradeira do julgamento no Senado, quando a oposição precisará do aval de 54 parlamentares. Até lá, planejam convencer os indecisos apostando nas incertezas da opinião pública, cada dia mais desconfiada de um eventual governo Michel Temer.

A BBC Brasil conversou com alguns dos principais membros da base de apoio do governo, conhecidos por definir o processo como "golpe", para saber como estão agindo na defesa de Dilma em meio ao avanço do impeachment.

Entre eles, nomes como Gleisi Hoffmann (PT-PR), que chefiou a Casa Civil entre 2011 e 2014 e hoje é investigada pela Lava Jato, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), procuradora da mulher no Senado e Humberto Costa (PT-PE), líder do governo na Casa.

Outro que se destaca é Lindberg Farias (PT-RJ), presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) nos anos 1990, lembrado como líder do movimento caras-pintadas, que tomou as ruas pela saída do presidente Fernando Collor. Ele não atendeu o pedido de entrevista.

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Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann em comissão do Senado, onde parecer favorável ao impeachment foi aprovado

Comissão

Gleisi e Vanessa eram titulares na Comissão Especial de Impeachment, onde negavam que Dilma tivesse cometido crime de responsabilidade e questionavam os argumentos da oposição.

Para elas, os bate-bocas com os colegas eram inevitáveis em um ambiente "de cartas marcadas".

"Na Câmara não teve discussão", diz Gleisi. "Obviamente esse clima contaminou o Senado. Infelizmente, por ter um relator comprometido com o processo de impeachment, do PSDB, a gente não conseguiu reverter muita coisa."

Mais do que os debates com "quem não queria nem ouvir", para os governistas valeu a oportunidade de falar à população - e aos parlamentares que ainda têm dúvidas sobre o mérito do processo.

"Para a opinião pública (a argumentação) é fundamental", diz Vanessa Grazziotin. "Há muita manipulação de informação e (as pessoas) formam juízos de valor baseado em informações equivocadas. O povo acha que ela tem que sair porque a economia vai mal, por causa da corrupção. Mas a corrupção aparece porque ela apura."

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Gleisi e Grazziotin dizem que parte importante de discussão no Senado foi falar com a população

A senadora do PCdoB diz perceber que sua defesa da presidente é desaprovada por segmentos da sociedade, mas acha que isso está mudando.

"No primeiro momento (a ação) é reprovar nossa atitude, mas isso logo vai cair por terra. Porque há uma ilusão de que Dilma é a razão da crise, e que se ela sair a crise vai ser superar."

Além de Graziottin, outros membros do grupo pró-governo acreditam estar em curso uma virada na percepção dos brasileiros sobre o impeachment. Na opinião deles, as pessoas estariam cada vez mais receosas com um eventual governo Temer. O afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara seria outro fator dessa transformação.

"Tem pesquisas que mostram que, no Nordeste, 60% são a favor da democracia e 40%, do impeachment", diz o senador Paulo Rocha (PT-PA), um dos responsáveis pela articulação do grupo dentro do plenário. "No sul, seria o contrário, mas esse número está reduzindo dia a dia - hoje são 53%. Significa que há uma mudança mesmo nessa camada, de classe média alta elitista. Quando se processaram as mobilizações, a grande figura era o Cunha e agora perceberam que ele era o grande corrupto do país."

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Humberto Costa e Jorge Viana fazem trabalho de articulação na Casa para convencer indecisos

Pressão

A tropa de choque de Dilma quer aproveitar esse suposto giro da opinião pública para pressionar parlamentares que pensam em mudar de posição. É nesse segmento que o grupo deposita suas fichas.

"Estamos conversando com um conjunto de senadores que têm uma certa consciência democrática do processo que está sendo construído. A percepção maior é do sentimento da população, para que esses senadores possam ter respaldo popular ao votar", diz Rocha.

O trabalho de articulação é dividido em dois. Um parte dos aliados faz o estudo técnico e jurídico do processo, para produzir argumentos, e outra atua nos diálogos com os colegas.

A expectativa da base de Dilma é conseguir 30% dos votos nesta quarta-feira, como forma de sinalizar que a oposição não terá, na segunda etapa, o mínimo de votos para afastar a presidente.

"Estamos mais perto dos 28 votos do que eles dos 54 votos (na fase do julgamento). Muitos estão dizendo que vão votar 'sim' agora para analisar depois", diz Vanessa Grazziotin.

As conversas são diárias, mas os governistas dizem que ainda é difícil saber como está o placar - segundo o jornal Folha de S.Paulo, na noite de terça-feira eram 51 senadores a favor e 21 contra o afastamento da presidente.

Toda a movimentação é acompanhada de perto por Dilma Rousseff. Segundo Gleisi Hoffmann, ela pergunta frequentemente sobre a posição dos parlamentares e acompanhou as sessões da comissão do impeachment.

"Está muito serena, mas muito triste. Ela vai enfrentar até o final."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria ajudando no convencimento dos parlamentares.Image copyright AGENCIA SENADO
Senador Humberto Costa diz que governistas vão tentar fazer um terço dos votos na quarta

Oposição

Apesar da confiança de que o processo pare na votação derradeira no plenário, eles já falam sobre o tipo de oposição que formariam em um eventual governo Temer.

A senadora Fátima Bezerra (PT-PB) menciona "tempos difíceis" para Temer.

"Não enxergamos nenhuma legitimidade num eventual mandato dele, mesmo que provisório. A julgar pela Ponte Para o Futuro (documento lançado no final do ano passado), significará um duro retrocesso. Temos o dever de fazer uma oposição responsável, mas muito firme. O dever de lutar para impedir a perda de direitos dos trabalhadores. "

O documento, interpretado como uma agenda econômica para o governo Temer, propõe a reforma previdenciária e a revisão de gastos públicos obrigatórios, como os vinculados a educação e saúde.

A resistência, diz a senadora, viria de uma combinação do campo institucional com as ruas, já que não teriam maioria no Congresso.

Paulo Rocha, na frente de articulação do governo, fala em "oposição radical", não só para barrar medidas no Senado, mas também para "retomar a democracia no país".

Como lembra Humberto Costa, Temer no poder levaria a esquerda de volta à oposição: "o que temos grande experiência de fazer".

"Vamos fazer como em outros tempos: procurar fiscalizar, ter uma relação mais próxima com movimentos sociais, com a população. Vamos barrar mesmo."

BBC