Vereador pode estar por trás da morte de Marielle Franco (PSOL), diz testemunha

Testemunha ameaçada pela milícia disse que morte de Marielle Franco (PSOL) foi planejada pelo vereador carioca Marcello Siciliano (PHS), suposto aliado de grupos paramilitares; jornal O Globo teve acesso a depoimento.


Marcelo Camargo/Agência Brasil - 15.3.18
Assassinada aos 38 anos de idade, vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) foi homenageada na Câmara dos Deputados

O vereador carioca Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújoqueriam a vereadora Marielle Franco (PSOL) morta, planejaram seu assassinato e deram a ordem para que ela fosse executada. Foi isso o que disse uma testemunha à Divisão de Homicídios da Polícia Civil que, no Rio de Janeiro, investiga o crime que intriga o país há quase dois meses. A informação é do jornal O Globo.

Quase dois meses após Marielle e o motorista Anderson Gomes terem sido assassinados nas ruas do Rio de Janeiro em um crime que, de acordo com as investigações, guarda a assinatura de grupos paramilitares, esta testemunha, um homem que afirma ter trabalhado para a milícia, procurou os investigadores e prestou depoimentos em troca de proteção policial.

Ele afirma que foi coagido a prestar serviços à milícia sob a ameaça de que seria morto se não o fizesse. A testemunha disse que era uma espécie de segurança do ex-PM Orlando Oliveira,preso desde outubro de 2017 por chefiar um grupos milicianos.

No período em que trabalhou para Oliveira, a testemunha diz ter presenciado reuniões do ex-PM com Siciliano . Ele deu detalhes à polícia sobre a insatisfação que a atuação parlamentar de Marielle causava ao vereador e à milícia, uma vez que ela apoiava projetos e ações sociais em regiões de interesse do grupo. 

“Eu estava numa mesa a uma distância de pouco mais de um metro dos dois [Oliveira e Siciliano]. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: ‘tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando’. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: ‘Marielle, piranha do [deputado estadual Marcelo] Freixo’. Depois, olhando para o ex-PM, disse: ‘precisamos resolver isso logo’”, contou a testemunha aos investigadores.

Ainda de acordo com a testemunha, que procurou a polícia pois temia ser morto em “queima de arquivo”, Orlando Oliveira era uma espécie de “capataz” de Siciliano. O vereador, em sua defesa, diz que sequer conhece o ex-PM.

A testemunha afirma, ainda, que o encontro acima descrito foi só uma das quatro ocasiões em que presenciou a dupla planejando o assassinato de Marielle. Ele também revelou aos investigadores nomes de quatro possíveis executores do crime, detalhando inclusive a forma como teria sido feita a clonagem da placa do veículo utilizado na noite do assassinato. Ele também contou que a vereadora vinha sendo seguida por um integrante do grupo, que traçou seus hábitos e itinerários.

“Ela [Marielle] peitava o miliciano e o vereador. Ela tinha bastante personalidade, peitava mesmo”, acrescentou. Ele também afirmou que a ordem para a morte da vereadora foi dada desde a cela em Bangu 9 onde está preso o ex-PM supostamente envolvido com o Siciliano.

Por fim, a testemunha também prestou esclarecimentos sobre a morte de Carlos Alexandre Pereira Maria, assassinado um mês após o crime que vitimou Marielle e Anderson . Carlos era funcionário do vereador Marcello Siciliano e, de acordo com o depoimento da testemunha, sua morte foi “queima de arquivo” – ele teria informações sobre o envolvimento do vereador no caso. 

Siciliano, assim como outros vereadores do Rio, havia prestado depoimento aos investigadores dias antes do assassinato de Carlos Alexandre. O PM reformado Anderson Claudio da Silva, morto no dia 11 de abril, teria sido também assassinado pela milícia, pois, por sua vez, teria informações sobre a morte de Carlos Alexandre.

Para os investigadores, o cerco “se fecha” sobre os mandantes do crime, e o caso pode ter um desfecho em breve.

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