Nova descoberta: tumores primários têm seu próprio mecanismo para interromper a metástase

Imagem: O Futuro das Coisas
Quando o câncer se espalha além do local onde começou, a doença fica de fato perigosa. Encontrar formas de interromper esse processo, conhecido como metástase, tem sido uma das áreas-chave da pesquisa do câncer, já que pode aumentar a sobrevida dos pacientes.

A metástase pode ocorrer quando as células cancerosas viajam através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras áreas do corpo.

Muitas das células cancerosas que se desprendem do tumor primário morrem sem causar quaisquer problemas. Mas, algumas chegam a uma nova área, onde começam a crescer e formar novos tumores.

Qualquer tratamento que for dado a um tumor não será suficiente se outros tumores aparecerem novamente em outras partes do corpo.

Trabalhos recentes já identificaram vários mecanismos que permitem às células “brecar” o tumor principal e proteínas que protegem as células soltas enquanto estas migram pelo corpo. Todos esses mecanismos podem virar tratamentos no futuro.

Uma nova descoberta, publicada ontem na Nature Cell Biology representa um avanço e a perspectiva de novos tratamentos. O estudo co-liderado * pelo Instituto Garvan de Pesquisas Médicas, na Austrália, revelou que os tumores primários têm seu próprio mecanismo para retardar o crescimento de cânceres secundários.

Em testes realizados com camundongos, eles descobriram um “ecossistema” inédito em um câncer de mama avançado, no qual, curiosamente, o tumor primário da mama emite sinais que impedem o crescimento de tumores secundários em outras partes do corpo.

Através de uma resposta inflamatória, o tumor primário provoca o sistema imunológico para que faça um ataque sobre possíveis ameaças antes que elas tenham a chance de se estabelecer em outra parte do corpo. Uma vez que as células do sistema imunológico localizam as ameaças, eles são capazes de congelar seu crescimento, interrompendo o crescimento do tumor.

Christine Chaffer, coautora da pesquisa, explica que quando essas células estão migrando, antes de estabelecerem um novo tumor, elas são particularmente vulneráveis, porque ainda encontram-se em um estado intermediário e sua identidade não está definida. É nesse ponto que o sistema imunológico pode intervir.

Dr Christine Chaffer – Crédito: Garvan Institute

“Quando as células que migram são forçadas a permanecer no estado de transição, elas não crescem adequadamente”, complementa Sandra McAllister, também coautora do estudo. “E a capacidade delas de formar um novo tumor fica gravemente comprometida. Então, notavelmente, ao ativar a resposta imune, o tumor primário basicamente bloqueia sua própria disseminação”.

Dra. McAllister explica que em um tumor primário, há um número incontável de células que viajam pelo corpo – mas nem todas formarão tumores: “Segundo algumas estimativas, menos de 0,02% dessas células formarão tumores secundário, então temos uma oportunidade real de reduzir esse número a zero”.

Embora esse processo tenha sido descoberto em camundongos, os pesquisadores afirmam que há evidências de que o mesmo processo ocorre também em humanos. A equipe descobriu que, em um grupo de 215 pacientes com câncer de mama com alto risco de desenvolver metástase, pacientes com altos níveis do mesmo tipo de resposta imunológica tiveram melhor sobrevida global em comparação com aqueles com baixos níveis.

Até o momento, eles já descobriram alguns dos sinais que as células imunológicas enviam para evitar a metástase, porém vão continuar as investigações até encontrarem outras maneiras de impedir a disseminação do câncer.

“Queremos entender exatamente o que o tumor está liberando para ativar essa resposta imune e como as células imunológicas estão atacando os locais secundários”, conclui a Dra. Chaffer. “Em princípio, todas essas etapas apresentam oportunidades terapêuticas que poderiam ser usadas para impedir que um câncer se desenvolva mais.”


Esta pesquisa produziu algo raro – uma pista do próprio câncer sobre novas possibilidades de combater sua disseminação. Nosso objetivo é descobrir como podemos imitar esse “congelamento” de tumores secundários, para que possamos um dia influenciar todos os cânceres de mama e manter seus tumores secundários sob controle.” – Christine Chaffer, coautora da pesquisa.

Os pesquisadores também esperam aplicar as descobertas para outros tipos de câncer, e determinar se processos semelhantes podem ser utilizados para suprimir a disseminação em outros tipos de tumores.

* O estudo é resultado de uma colaboração entre o Instituto Garvan de Pesquisa Médica, Brigham and Women’s Hospital, em Boston, Dana-Farber Cancer Institute, Universidade de Harvard e MIT – Massachusetts Institute of Technology.

O Futuro das Coisas | Editor Health : Willen Moura