O presidente da Argentina, Mauricio Macri, vai recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em busca de apoio externo para equilibrar a situação financeira do país.
Em pronunciamento nesta terça-feira (8), em rede de televisão, Macri disse que as políticas econômicas adotadas em dois anos e cinco meses de governo são o único caminho possível para sair da situação de “estancamento” que herdou da antecessora Cristina Kirchner.
Mauricio Macri, presidente da Argentina (Arquivo/Agência Brasil)
Macri admitiu que a Argentina é um dos países “que mais dependem de financiamento externo” e que foi afetada pelas recentes mudanças no cenário internacional, com os aumentos do preço do barril de petróleo e da taxa de juros norte-americana e a valorização do dólar norte-americano frente a outras moedas.
Na sexta-feira (4) o Banco Central argentino elevou as taxas de juros de referência de 33,25% para 40%, para atrair de volta os investidores e conter a disparada de dólar. Na Argentina, qualquer aumento no valor do dólar costuma ter impacto sobre a inflação, que continua alta (cerca de 25% ao ano).
Em entrevista coletiva, após o pronunciamento de Macri, o ministro da Economia, Nicolas Dujovne, disse que já conversou com a diretora executiva do FMI, Christine Lagarde, sobre a possibilidade de um “empréstimo preventivo”, a taxas mais baixas que as do mercado. Economistas independentes estimam que o valor deve ficar em torno de US$ 20 bilhões, mas o governo ainda não falou de cifras, nem sobre quais seriam as condições.
Dujovne afirmou apenas que manterá a política gradualista de cortar o alto déficit público, que equivale a 6% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). O governo considera politicamente inviável adotar medidas drásticas para recuperar a economia, mesmo após a grande crise de 2001.
Desde que o país começou a se recuperar, no governo de Nestor Kirchner (2003-2007), até a chegada de Macri ao poder, a Argentina tem assumido postura contrária às políticas de ajuste impostas pelo FMI como condição para concessão de empréstimos a países em dificuldades.
“O FMI hoje não é o mesmo de antes”, disse Dujovne, ao lembrar que vários países desenvolvidos recorreram ao fundo para superar crises, sobretudo nos anos de 2008 e 2009. “O fundo aprendeu com as lições do passado e, de fato, Christine Lagarde, apoiou o programa gradualista da Argentina”,destacou Dujovne. De acordo com o ministro, o empréstimo garantirá que o governo continue tendo fundos para financiar programas sociais e crédito a pequenos produtores.
Falta liderança, diz economista
“Recorrer ao FMI é um sinal de que falta liderança no país, mostra que a Argentina é vulnerável e precisa de apoio externo para acabar com os excessos nos gastos públicos”, disse o economista Guillermo Nielsen, em entrevista à Agência Brasil. Ex-secretário de Finanças nos governos de Eduardo Duhalde ( 2002-2003) e Nestor Kirchner, Nielsen foi o responsável pela renegociação da divida externa argentina, apos a moratória de 2001.
Ele negociou os dois últimos acordos com o FMI, em 2003 e 2005. Desde então, a Argentina pagou toda a dívida com o fundo para não ter de adotar as receitas econômicas da instituição, que muitos argentinos consideram responsável oela crise de 2001. Sem acesso aos mercados internacionais, a Argentina pôde se financiar durante uma década com as exportações, aproveitando o auge nos preços das commodities (produtos primários com cotação internacional).
O economista Alan Ciblis, da Universidade de General Sarmiento, por sua vez, apontou como um dos principais problemas da economia o fato de que, com Macri, o país voltou aos mercados internacionais, mas passou a se endividar muito. Em entrevista à Agência Brasil, Ciblis enfatizou que a dívida equivale a 60% do PIB, e a maioria é em dólares.
Por Monica Yanakiew - AGÊNCIA BRASIL
Edição: Nádia Franco