O Coração humano tornou-se público



Tenho x anos, sou bonita, simpática, comunicativa, boa profissional, exigente e atraente. Quero um relacionamento de namoro. Porém, está difícil conseguir um namorado, eles não querem mais nada sério! Por que será? Os homens não querem namorar hoje em dia? Cadê os homens bem definidos, maduros, e decididos? Será que os homens não querem mais namorar?”

Seria difícil encontrar apenas uma única autora para essa confissão, talvez até mesmo dizer que ela pertença somente ao sexo feminino. Porém, certamente estas palavras estão cada vez mais presentes nos discursos daqueles que procuram ter um relacionamento afetivo no mundo atual.

Em nome da “modernidade” homens e mulheres aventuram-se na conquista de parceiros sob a máxima: “Eu sou de ninguém. Eu sou de todo mundo” no qual cada relacionamento tem seu prazo de validade expirado em curtas noites, tudo em nome da autonomia e da liberdade . Porém, a eterna aventura de quem vive sempre experimentando o amor faz do coração humano um lugar comparável a uma área pública.

Assim como as praças públicas, o coração de quem vive eternamente “experimentando” se assemelha a um espaço público caracterizado pelo uso coletivo e indiscriminado no qual a privacidade, perde o sentindo ao se transformar em espaço de domínio público e área de lazer coletivo.

Porém, o local que se torna público passa a ser vítima dos seus próprios usuários no qual nenhum deles assume a responsabilidade de cuidar e de manter o local. Tomemos os terrenos baldios como exemplo; quem passa por eles não faz a mínima questão de cuidar, pelo contrário, pouco se importa em colocar mais lixo, de qualquer forma “um lixo a mais ou a menos não vai importar”.

Diferentemente dos espaços urbanos, nosso coração não tem placas de advertências do tipo: “proibido agredir”, “proibido usar e depois ir embora”, “não abuse de mim” ou “me respeite”. Essas placas não estão escritas em palavras, elas estão escritas em nossas ações. O conjunto comportamental de nossas ações é o que vai dizer aos outros se somos de domínio público ou se nosso coração é um ambiente privado que exige respeito.

Curiosamente, o que ocorre é que muitas vezes nos envolvemos com pessoas de domínio público e consequentemente nós que não queremos viver essa condição acabamos por nos sujeitarmos a aceitar essas condições nas quais eles vivem. Porém, cada espaço/local tem o seu proprietário, portanto cada proprietário deve regularizar e organizar a situação do seu ambiente, pois não podemos e nem devemos exigir que terceiros assumam a responsabilidade de cuidar e cativar daquilo que nos pertence, daquilo que é privado.