Moscou espera trégua 'nas próximas horas' em Aleppo, na Síria

AFP / GEORGE OURFALIAN

Moscou declarou nesta terça-feira que espera um cessar-fogo "nas próximas horas" em Aleppo, a grande cidade no norte da Síria, onde novos combates e bombardeios fizeram 18 mortos, atingindo mais uma vez um centro médico.

Ao mesmo tempo, França e Reino Unido pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a situação na cidade síria de Aleppo.

"Aleppo é uma cidade-mártir, que está no centro da resistência ao (presidente sírio) Bashar al-Assad", enfatizou o embaixador francês François Delattre, ao comparar a localidade à Sarajevo durante a guerra na Bósnia.

"Aleppo está em chamas e é imprescindível que nos concentremos neste assunto de máxima prioridade", afirmou o embaixador britânico Matthew Rycroft.

De acordo com um fotógrafo da AFP, este foi o dia mais terrível na área controlada pelo regime de Bashar al-Assad desde a retomada das hostilidades, em 22 de abril, na cidade onde mais 270 pessoas foram mortas em 12 dias.

A escalada da violência acabou com o cessar-fogo que havia entrado em vigor em 27 de fevereiro, sob a liderança da Rússia, aliada do regime, e dos Estados Unidos, que apoiam a oposição.

Alarmado com essa degradação, o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, viajou para Moscou nesta terça-feira para se encontrar com o chanceler russo, Sergei Lavrov.

"Temos de garantir que o fim das hostilidades volte para o caminho certo", disse.

'Insuportável'

Lavrov declarou que espera obter um acordo nas próximas horas sobre um cessar-fogo em Aleppo. "Eu espero que, o mais rápido possível, talvez noas próximas horas, uma decisão seja anunciada", afirmou.

De Mistura, que se reuniu na segunda-feira com o chefe da diplomacia americana, John Kerry, espera que Rússia e Estados Unidos tentem convencer os diferentes envolvidos no conflito a restabelecer a trégua.

Kerry considerou na segunda-feira que o conflito "fugiu do controle".

AFP / KIRILL KUDRYAVTSEVO ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov (E), e o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura (D), em Moscou, no dia 3 de maio de 2016


Ainda no plano diplomático, a Alemanha anunciou dicussões na quarta-feira em Berlim com De Mistura, o coordenador da oposição síria Riad Hijab e o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault.

"Os debates incidirão sobre a questão de como criar as condições para prosseguir com as negociações de paz em Genebra, para reduzir a violência e melhorar a situação humanitária na Síria", informou a chancelaria alemã.

"O que acontece em Aleppo é insuportável (...) Temos de fazer tudo para que o cessar-fogo seja retomado (...) Cada dia que passa está perdido", disse Jean-Marc Ayrault.

No terreno, os rebeldes lançaram uma grande ofensiva com violentos bombardeios contra áreas controladas pelo governo em Aleppo, onde pelo menos 16 civis foram mortos e dezenas ficaram feridos, segundo a agência de notícias síria SANA.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) informou um saldo de 19 mortos e 80 feridos.

Maternidade atingida

"Vários obuses disparados por rebeldes contra a maternidade de Al-Dabit, no bairro da Mohafaza, no centro de Aleppo, deixaram três mortos e 17 feridos, segundo um balanço preliminar", afirma a agência oficial síria.

Fotos do local atingido mostram a fachada do centro médico em ruínas.

No total, quatro hospitais do lado rebelde e dois do lado do governo foram fortemente atingidos na mais recente onda de violência.

Neste contexto, o Conselho de Segurança da ONU adotou nesta terça-feira por unanimidade uma resolução que reafirma que as instalações médicas em zonas de guerra devem ser protegidas durante conflitos armados.

O exército sírio indicou que "os grupos terroristas" Frente al-Nusra (ramo sírio da Al-Qaeda), Ahrar al-Sham e Jaich al-Islam lançaram um "grande ataque em várias frentes após bombardeios intensos em áreas residenciais e um hospital de Aleppo".

A ofensiva rebelde começou, de acordo com um fotógrafo da AFP, com um ataque contra a sede dos serviços de inteligência da força aérea em Zahra, no oeste da cidade.

A aviação e artilharia do regime responderam alvejando bairros rebeldes do leste da cidade. Os serviços de defesa civil relataram duas mortes.

Na frente dos combates contra o grupo Estado Islâmico (EI), que controla grandes porções do território, uma série de ataques aéreos em Raqa (leste), sua fortaleza na Síria, matou 19 civis, de acordo com o OSDH.

A ONG, no entanto, não foi capaz de especificar se os ataques foram realizados por aviões russos ou da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

AFP