A música vai além do entretenimento e pode diminuir a ansiedade e o estresse, diz psicólogo

Logo que a pandemia foi instalada e a necessidade de isolamento social ficou quase que obrigatória começamos a ver algumas mudanças de hábitos bem como novas perspectivas e modelos de entretenimento foram introduzidas em nosso cotidiano. Algumas delas são as apresentações de grupos musicais locais em condomínios e as conhecidas lives na internet de cantores famosos. 

Mesmo à distância, onde as bandas ficam restritas a um local de isolamento ao ar livre e cada componente devidamente paramentado, é possível ouvir e interagir seja ligando e desligando as luzes da varanda quando é solicitado, aplaudindo, pedindo música pelo whatsapp, entre outras. 

Esse novo modelo de entretenimento, associado às lives na internet, pode ter chegado pra ficar e além de uma simples ação para interagir com os moradores isolados em seus lares, tais apresentações servem, e muito, para diminuir o estresse do confinamento, bem como minimizar os efeitos da ansiedade em torno do coronavírus.  

Lives Gospel

Há também um crescimento, neste período, das lives voltadas para os cristãos. Tais apresentações ao vivo de louvor e adoração são realizadas pelos cantores gospel e bem recebidas pelo público que interage compartilhando, curtindo, comentando e cantando junto.

A musicoterapia no confinamento

A sociedade já vinha enfrentando tais problemas com estresse, depressão, ansiedade. A pandemia, embora tenha sido para alguns um momento de reflexão, para outros acentuou tais quadros. Dessa forma observamos que a importância da música vai muito além do entretenimento.


Psicólogo Tiago Dantas Martins
Psicólogo Tiago Dantas Martins (foto cedida)
Para o psicólogo Tiago Dantas Martins, a música pode ser utilizada para o controle da ansiedade. Existe uma crescente quantidade de publicações científicas que dão robustez ao emprego da música enquanto ferramenta para promoção da saúde mental, seja tentando tocar um instrumento ou simplesmente ouvindo-a. Alguns estudos têm evidenciado que ouvir determinados estilos de música ajudam a melhorar alguns marcadores biológicos como pressão arterial e frequência cardíaca. Um estudo¹ realizado em Pernambuco com pacientes que sofreram intervenção cirúrgica para correção de cardiopatia observou que os pacientes que ouviam 30 minutos de música apresentavam uma redução de dor quando avaliados por uma escala facial do nível de dor em comparação ao grupo controle que não ouvia música alguma.


Um outro estudo², realizado com pacientes que se submetiam a hemodiálise, também encontrou evidências de que os mesmos 30 minutos de música favoreciam sutis reduções da pressão arterial em relação ao grupo controle. Nesses dois estudos foi utilizada a música “Primavera” das quatro estações do compositor barroco Antônio Vivaldi. Essa música possui características peculiares que favorecem o relaxamento, e não seria inadequado associar seus efeitos à redução dos níveis de ansiedade em um momento como o que estamos vivendo no presente.

Músicas que são calmas e não parecem tristes são as ideais para ajudar a induzir um efeito de relaxamento. Uma outra prática que também pode ser utilizada com êxito para redução dos níveis de ansiedade é tocar um instrumento recreativamente. o contato com a música frequentemente é relaxante não somente pelo seu potencial recreativo, mas porque ela pode produzir reações positivas no nosso cérebro que reduzam os níveis de estresse emocional e por conseguinte, os níveis de cortisol, e até mesmo, diante disso, pode favorecer o sistema imunológico, quando empregada adequadamente.

1 - “Efeito terapêutico da música em crianças em pós-operatório de cirurgia cardíaca” - Autores: Thamine P. Hatem; Pedro I. C. Lira; Sandra S. Mattos.

2 – “Intervenção musical sobre a ansiedade e parâmetros vitais de pacientes renais crônicos: ensaio clínico randomizado” - Autores: Geórgia Alcântara Alencar Melo, Andrea Bezerra Rodrigues, Mariana Alves Firmeza, Alex Sandro de Moura Grangeiro, Patrícia Peres de Oliveira, Joselany Áfio Caetano.


Por Willen Benigno de Moura | Editor de Saúde e cotidiano