Quem precisa perder peso é a ignorância


Geralmente quando não os ignoramos, os agredimos. Assim é que muitos obesos do se sentem, pois são alvos de preconceito e da indiferença da sociedade. Frequentemente sofrem com nossa intolerância e nossa resistência em aceitar suas diferenças e particularidades.

Condicionados a perceber o sobrepeso ou a obesidade apenas como um problema de saúde física, a sociedade não reconhece que a subjetividade do ser humano não existe desligada do corpo e que o corpo não deve ser ignorado como fator que influi sobre a saúde mental.

De acordo com a psicóloga Patricia Vieira Spada, o ato de comer demais pode mascarar o sofrimento do indivíduo diante da possibilidade de se defrontar com diferentes conflitos psíquicos, negligenciados ou minimizados tanto pela família quanto pela própria pessoa obesa. Ao ser compelido e até estimulado a repetir o mesmo comportamento que prejudica e impede de adotar hábitos alimentares e psicológicos saudáveis, o indivíduo sente solidão, impotência e desesperança.

Atualmente a discriminação e a perseguição que as pessoas fora do peso sofrem podem ser facilmente comparáveis ao racismo ou à homofobia. Enquanto atitudes racistas ou homofóbicas são publicamente condenáveis, parece que não há nada de errado em fazer piadas de mau gosto sobre aparência das pessoas fora de peso. Diferente dos negros e dos homoafetivos, os gordos raramente são poupados de comentários sobre sua aparência física.

Apesar disso, um grupo de gordos tem mostrado que mesmo que a dor do preconceito e da discriminação seja inevitável, o sofrimento é opcional. Fundada há 40 anos, mas tornando-se mais conhecida agora, a Naafa (Associação Nacional para o Avanço da Aceitação dos Gordos, na sigla em inglês) busca ajudar a construir uma sociedade na qual as pessoas de todos os tamanhos sejam aceitas com dignidade e igualdade.

Além disso, um grupo de escritores, intelectuais, médicos e cientistas reivindica, nos EUA, o "orgulho gordo". De acordo cum uma reportagem publicada pelo jornal espanhol El País, o grupo se reúne na internet e em simpósios universitários para "dizer que sim, que estão gordos. E que não importa. Que se pode ser gordo e feliz”.

Para a Psicologia, a convivência, através de uma atitude comunitária é a forma mais adequada de se reduzir o preconceito para o desenvolvimento da tolerância e do respeito entre as pessoas, porém se o interesse pelo estudo da obesidade estiver priorizando compreender apenas os aspectos da saúde física juntamente com a necessidade de medicalizar as pessoas fora de peso, estaremos negligenciando o significado que o corpo tem para as pessoas.

Confira logo abaixo um vídeo sobre o Orgulho Gordo nos EUA:


“Parece loucura, mas num mesmo dia e durante várias vezes, me sinto gorda e depois magra, em seguida gorda e depois magra de novo... às vezes me olho no espelho e não me sinto em meu corpo, penso - este corpo não é meu, não me pertence, esta não sou eu! Parece que acredito de verdade que seja possível dormir gorda e acordar magra, e não ter que passar pelo tal processo que leva tempo e que precisa de muito esforço e persistência, coisas que eu não consigo.”

O fragmento acima foi extraído do livro Obesidade e sofrimento psíquico: realidade, conscientização e prevenção. É o depoimento real de uma das pacientes da autora, a psicóloga Patricia Vieira Spada.