Classe mais baixa é a mais afetada com a crise,segundo Ipea

Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A renda média brasileira cresceu quase 7% entre 2012 e 2014, caiu mais de 3% em 2015, diminuiu 1% em 2017 e aumentou 4% em 2018 de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar de toda oscilação, com momentos de recuperação, o levantamento revelou que em todo momento a população mais pobre do Brasil teve redução do rendimento, ou seja, enquanto a renda per capita dos 5% mais ricos subiu quase 9% no período 2015-2018, os 50% mais pobres da população viram sua renda média encolher 4%. 

Segundo Rogério Barbosa, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ e co-autor da pesquisa do Ipea, uma das justificativas para este alargamento das diferenças sociais é que os momentos de recuperação econômica começam sempre da classe mais alta para a mais baixa, e se interrompidos por novos períodos de recessão, como foi o caso, esse alívio na renda média nunca chega de fato aos mais pobres.

O pesquisador afirma que a nova crise econômica causada pela pandemia só serviu para atenuar esse distanciamento de classes.  Segundo Rogério, de início, entre março e abril vários setores sociais foram atingidos ao mesmo tempo, mas logo a partir de maio formas diferentes de recuperação já estavam disponíveis para populações mais ricas. 

“Por exemplo, o teletrabalho é uma possibilidade de emprego que não está disponível para todos os tipos de trabalhadores. A impossibilidade de manter o vínculo, principalmente dos profissionais menos qualificados ou trabalhadores manuais levou a um desemprego concentrado entre os mais pobres. Ainda que tenha havido um esboço de recuperação da atividade econômica principalmente em função do afrouxamento do distanciamento social, isso não significa que todo mundo está se recuperando igualmente”.

De acordo com o economista Cosmo Donato, da LCA Consultores as expectativas não são as melhores para os próximos anos. Segundo o especialista a retirada de programas sociais como o Auxílio Emergencial desaceleram ainda mais a recuperação econômica da população mais pobre. 

“O maior impacto da pandemia sobre as famílias mais desfavorecidas ainda não será esse ano e sim ano que vem. Mesmo que já tenha uma percepção muito ruim de 2020, infelizmente 2021 deverá ser pior. Em 2022 em diante, talvez a capacidade de crescimento da economia brasileira não seja maior que 2% e essa agenda de crescimento é muito importante para promover a distribuição de renda. Não podendo contar com esse crescimento e com o governo investindo e promovendo programas sociais, isso deve ser insuficiente para amenizar esse grande problema pelos próximos anos. 

O último levantamento da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, com dados de 2018/2019 havia apontado uma diminuição de 0,6% na pobreza brasileira. Essas eram as pessoas que viviam com até R$ 30,25 por dia, no ano passado. Ainda assim, sem os dados de 2020, não é mais possível afirmar que essa estatística se mantenha atualmente após a paralisação econômica


Fonte: Brasil 61